segunda-feira, 21 de julho de 2008

A Fama da Margem, A Margem da Fama

A FAMA DA MARGEM, A MARGEM DA FAMA

Marcelino Rodriguez


"Ei, esse aqui sou eu!" . Foi o que pensei enquanto folheava um dos capítulos de "O Mago", um livro maravilhoso sobre um personagem não menos singular, Paulo Coelho. E quem se der ao trabalho de ir lá conferir verá que sou eu mesmo, "O poeta Marcelino Rodriguez". Se eu pudesse interferir no que sai de mim por ai, só não gosto de ser chamado de poeta; prefiro escritor! ai cabe bem. São vinte e dois anos de carreira, literalmente. Inicialmente busquei a fama, mas depois vi que a fama é ilusória. Quem não estiver preparado para o sucesso terá que lidar com raposas de todo tipo, inclusive com as " belas mulheres e os grandes amigos e os inimigos verdadeiros. " Na minha carreira construida à margem até hoje, aprendi lições duras de combate. E curiosamente fiquei avesso a fama, embora ela sempre estivesse rodeando-me e de vez em quando me sorri sorrateira nas livrarias, nos sites, nos sebos, em comentários esparsos de leitores. Sei que bastaria eu pisar o acelerador e lá estou eu exposto como um outtdor. Que graça tem ser famoso? Melhor que nos descubram - raridade das raridades - sem propaganda. Será possível? Será que um dia as pessoas serão valorizadas pelo que são, por serem apenas gente? Eta pobre mundo rico ou rico mundo pobre. Na margem já ouvi de tudo, fiz poemas lindos pra mulheres vagabundas, fui abandonado nas noites mais frias e o silêncio tocou sua música nos ares e no tempo eterno. Não busco o sucesso; ele já está aqui, na minha integridade de não vaidoso! E a fama ali, sempre me cantando... sereia cínica... Eu aguentaria a ferocidade do mercado? A falta de privacidade? A inveja sorrateira? Os golpes baixos mais do que eu alcançaria a baixeza? Inicialmente um diabinho cantou: "processa esse cara, você tá duro". Logo depois o anjo sorriu: "de uma maneira misteriosa, são seus amigos; estão lhe ajudando". E lembrei-me que usei a foto do Paulo em um livro meu com a permissão dele há muitos anos! Para mim ser escritor não tem estrelismo nenhum! È apenas uma maneira de exercer a cidadania. Porém, que eu gostaria que certa mulher que disse-me textualmente uma vez que não queria o "nome dela" no livro de um escritorzinho (eu, hehe) qualquer lesse esse capítulo eu gostaria. Será que ela teria o briho que tive nos olhos? De criança que vê um desenho animado? Por certo que não. Sim, fui citado com muita honra pelo grande Fernando Morais!numa biografia de importância mundial. È pra ficar besta né? Eu que tem gente que corre do autor "quase famoso" e que às vezes não vende dois livros por mês. Claro, entre os dois eu sou apenas um peixinho, mas que nadando com humildade, vai também, Achando com justeza e sem perigo de submersão seu lugar nas àguas do grande mar da vida. A citação num livro e em autor e assunto de tal envergadura só enobrece duas décadas de trabalho honesto, embora muitas vezes a margem, onde as palavras duras, a indiferença, o vento frio e a solidão só são suportáveis quando o anjo da verdade farfalha suas asas. Obrigado, Fernando; obrigado, Paulo. Sinto que minhas palavras e meu trabalho chegam para quem tem que chegar, na hora que tem que chegar, do jeito que tem que chegar!Há belas paisagens nas margens e nas periferias, pena que o que não falta é gente distraída de milagres. Jamais esquecerei que um dia fui ler tanto um livro que mais queria e eis que eu também era personagem. 21.07.2008